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“Eu não troco os meus 50 pelos seus 25 por nada.” Assim dizia aquela senhora enquanto entrava no elevador conversando com a jovem que a acompanhava. Calaram-se quando viram que não estavam mais sozinhas e dividimos o pequeno espaço até que desci no meu andar e elas permaneceram para seguir viagem. Provavelmente retomaram o assunto que ficou suspenso diante da minha presença.

 

Fiquei pensando sobre a inevitável passagem do tempo e gostaria de hoje dividir com vocês este texto de Albert Camus, um escritor francês nascido na Argélia em 1913 e falecido na França em 1960:

Envelhecer

"Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.

A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.

O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude, não é havê-las cometido...é sim não poder voltar a cometê-las.

Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.

Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.

Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.

O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio...

Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.

Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.

A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.

Nada passa mais depressa que os anos.

Quando era jovem dizia:

“verás quando tiver cinquenta anos”.

Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada.

Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.

A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.

Sempre há um menino em todos os homens.

A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.

Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.

Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.

Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.

Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los."

 

O interessante do envelhecer é que quanto mais o tempo passa, maior fica a distância entre a mente e o corpo. O corpo envelhece com muito maior rapidez enquanto a mente segue ativa. É geralmente na faixa dos cinquenta que esta distância se faz inegável e, dependendo de como encaramos o envelhecimento, podemos vive-lo com maior ou menor leveza.

 

Aos atingirmos cinquenta anos temos a certeza de que já estamos vivendo a segunda metade de nossa vida; temos desejos, fazemos planos, gostamos, desgostamos, queremos fazer exercícios, viajar, beber, descobrir, mas o corpo começa a não acompanhar com a facilidade de antes o pique e a velocidade da mente que ainda está jovem. Foi isto que Camus resumiu perfeitamente quando disse que “A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.”

A partir dos vinte anos muitos costumam ter crises em todas as idades terminadas com zero. Um peso etário acompanhado de uma sensação de não ter mais tempo de nada os induzem a colocar na balança todas as vitórias, todas as perdas e tudo o que ainda não foi vivido.

 

Nós não trocamos os nossos cinquenta pelos vinte e cinco de ninguém simplesmente porque não podemos. Quem não gostaria de ter vinte e cinco anos com o conhecimento e experiência de quem tem cinquenta? O tempo não tem tecla pause e nem retrocesso, mas que tal se pudéssemos voltar no tempo para corrigir aquelas decisões que gostaríamos de não ter tomado?

 

Que bom que não podemos trocar os nossos anos de maturidade pela juventude de ninguém. Fazer isto seria de um egoísmo sem par, ao negarmos ao mais jovem a oportunidade de viver e criar a sua própria história. Certa vez ouvi que cada pessoa está onde tem que estar e cada vez mais tenho a certeza de que estou onde tenho que estar.

 

Cada idade tem a sua beleza e uma atitude que lhe são próprias. Não trocar a nossa idade, seja ela qual for, é valorizar e honrar a nossa trajetória. São os anos vividos que nos fazem quem somos.

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