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O que você prefere: Ser odiado ou ser esquecido?

 

Amor e ódio são faces de uma mesma moeda; um não é o oposto do outro como nos foi ensinado. Ambos nos fazem sentir vivos e usam os mesmos transmissores para se fazerem presentes, por isto geram sensações e reações parecidas. Se formos solicitados a representar o amor ou o ódio por uma cor, escolhemos invariavelmente o vermelho; quando amamos ou odiamos alguém, a pessoa visada está o tempo todo em nossa mente; até as sensações físicas são semelhantes: rubor na face, batimento cardíaco acelerado, sentimos o sangue correr nas veias. A diferença que conseguimos detectar é que enquanto o amor nos faz bem de uma maneira geral, o ódio faz mal à saúde sendo os órgãos mais afetados o fígado, o estômago e o coração, apesar de nenhum sistema ou órgão ser imune a este sentimento devastador. É por isto que é mais sensato, em lugar de dizer que o ódio é o contrário ou a ausência de amor, dizer que o ódio é o amor que adoeceu.

O amor adoece pela rotina, o amor adoece por falta de comunicação, o amor adoece por insegurança, por falta de cumplicidade, o amor adoece por ciúme e por várias outras razões. O que é importante ressaltar é que na base de todas as razões pelas quais o amor adoece está a indiferença. A indiferença, esta sim, é o oposto do amor. Quando a indiferença se instala em um relacionamento, começamos a perder a capacidade de amar e quando perdemos a capacidade de amar nos voltamos demasiadamente para nós mesmos instalando o egoísmo que corrói a comunicação e o entendimento sem sequer nos importarmos com isto.

A indiferença é como uma doença silenciosa; ela cresce e se alastra com o acúmulo das frustrações e mágoas as quais não damos o tratamento assertivo para seu escoamento. Frustrações e mágoas decorrem das decepções e expectativas não realizadas. Seu parceiro sabe das suas expectativas em relação a ele? As cláusulas do contrato invisível do casal estão claras para os dois? Quando nosso cônjuge desrespeita ou não cumpre as cláusulas do contrato invisível, ele deixa de corresponder ao que esperamos dele, seja no campo da fidelidade, da sexualidade, da cumplicidade, etc, e quando descobrimos que ele tem outras prioridades e expectativas, percebemos que o contrato invisível não estava claro para os dois nos dando a sensação de termos convivido o tempo todo com um desconhecido.

Enquanto o ódio mantém a pessoa que odeia e a pessoa odiada em sintonia, a indiferença é a ruptura desta sintonia. A pessoa ignorada simplesmente deixa de existir. Passamos a não testemunhar sua existência, a indiferença é a ausência da emoção, não nos damos conta sequer da sua ausência, é algo além da morte; é o vazio, é o nada. Enquanto a cor do ódio é vermelha, se a indiferença tivesse uma cor, seria a cor do ar. Enquanto o ódio tem chance de cura, a indiferença desconhece qualquer passado, presente ou futuro. Enquanto o ódio nos exige o corpo e a alma, a indiferença gera um silêncio vazio e estéril incapaz de abrigar qualquer sentimento saudável ou construtivo.

Antes da indiferença se instalar por completo o amor adoece. Esteja atento, porque enquanto ainda existir raiva e ciúme é sinal de que o amor ainda está ali. Ferido, adoecido, magoado, mas ainda ali e se ainda existir prazer, expectativa e conveniência para ambas as partes, o diálogo e o perdão precisam acontecer para que a vida a dois siga seu curso com amadurecimento e com chances de ainda mais cumplicidade.

A indiferença é o túmulo do amor. O vazio emocional que ela provoca precisa ser identificado o quanto antes por aqueles que desejam recuperar o relacionamento adoecido, antes que a indiferença desfaça o vínculo entre o casal. Um relacionamento amoroso se mantém enquanto existir satisfação pessoal e reciprocidade, pois somente se nos sentirmos bem, somos capazes de investir no outro. A quebra do círculo da reciprocidade afeta imediatamente a qualidade do compromisso e a intimidade.

Em resposta à questão proposta no título do nosso post, sugiro que não prefiram nem o ódio e muito menos a indiferença; prefiram ser amados. Todo relacionamento passa por crises. Amar é adaptar-se sempre, redescobrir a si e ao outro sempre que necessário, perdoar, ceder e até exigir. Relacionamentos precisam de acordos para manter ou para quebrar a rotina dependendo da dinâmica de cada casal. Qualquer esforço para salvar o relacionamento é válido, entretanto se houver a certeza de que não existe mais amor ou que o relacionamento gera mais desconforto do que felicidade, agradecer pelo tempo que foi bom e tentar resgatar a amizade talvez seja a melhor opção.

Não vale a pena ser prisioneiro de um relacionamento doentio nem agarrar-se a sonhos que não se concretizaram. O ódio e a indiferença doem e nos tiram do equilíbrio, o amadurecimento nos ensina a sermos corajosos e a nos afastarmos deles sempre que chegarem e nos lembra que para sermos felizes com alguém precisamos ser capazes de cuidar de nós mesmos.

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