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Todos sabemos que esta história de relacionamento perfeito é utopia. Relacionamentos passam por constantes ajustes, graças a Deus! Mas, talvez seja justamente a capacidade de se ajustar ao longo do tempo que faz com que consideremos certos relacionamentos perfeitos, porém isto é a visão de quem está de fora; quem vive o relacionamento é que sabe onde o calo aperta.

 

Algo presente nos relacionamentos saudáveis é a capacidade de perdoar e de pedir perdão. Pedir perdão é a habilidade que mais necessita ser evidenciada, pois apesar de nos relacionamentos maduros o perdão vir antes mesmo do pedido de desculpas, é o pedido de desculpas que exterioriza e que materializa a intenção e necessidade de manter o relacionamento saudável. Por vezes o orgulho ou a falta de sensibilidade à necessidade do outro em ouvir um pedido de desculpas, impede que o pedido seja feito no prazo justo fazendo com que o tempo decorrido entre a instalação da mágoa e o pedido deixe sequelas no relacionamento.

 

O perdão não apaga a memória; ele redimensiona o ocorrido. Quando somos nós que erramos, ficamos ansiosos para que o assunto se esvaneça, mas quando somos nós os ofendidos tendemos a nos fixar na ofensa. Isto acontece porque o perdão tem seu próprio tempo para acontecer, pois a memória é regida pelo tempo psicológico e pela emoção e não pelo tempo lógico marcado pelos dias do calendário e pelos ponteiros do relógio.

 

Em um relacionamento não perdoamos porque somos bonzinhos, perdoamos porque ainda investimos e acreditamos no relacionamento, perdoamos enquanto o prazer, a expectativa e a conveniência (alicerces de todo relacionamento) estão presentes impedindo a instalação da indiferença. É a indiferença e não a mágoa ou a raiva que destrói um relacionamento.

 

Por vezes sofremos de uma espécie de miopia de si mesmos. Esta incapacidade de nos enxergarmos adequadamente nos faz desconhecer ou minimizar a extensão dos danos que causamos quando perdemos a mão e falamos demais; usamos o tom de voz menos apropriado; negamos a atenção; damos carinho de menos; violamos as cláusulas do contrato invisível; ferimos a confiança ou traímos alegando que para nós nada disso tem importância enquanto que para a outra pessoa o peso de tudo isto pode ser muito maior do que ela ou o relacionamento possam suportar, principalmente quando são ações que se repetem periodicamente minando os alicerces de todo relacionamento. É por isto que não basta apenas pedir desculpas, é preciso mudar a atitude geradora da mágoa.

 

Relacionamentos longos dão uma sensação enganadora de que a pessoa sempre vai estar conosco. Esta situação se estende aos relacionamentos familiares nos quais não existem os títulos de ex-pai, ex-mãe, ex-irmão ou ex-filho e criamos a ilusão de que não precisamos pedir desculpas. Esta ilusão se torna ainda mais devastadora quando se alia à miopia de si mesmo e passamos a cultivar a ideia de que somos infalíveis, e as ações de alguém que se julgue infalível sempre serão cobertas de boa intenção fazendo parecer desnecessário qualquer pedido de desculpas.

 

Quando ajustamos as lentes com as quais nos observamos reduzindo a miopia de si mesmos, passamos a perceber o quanto podemos ser desajeitados no relacionamento, orgulhosos, termos pouquíssima habilidade ao agir e nos comunicar, que frequentemente causamos danos e perdemos a consciência do efeito de nossos atos, que falamos sem pensar. A partir daí nos arrependemos e sentimos a necessidade de reparar as consequências do que fizemos.

 

A redução da miopia de si mesmo faz surgir alguns conflitos: Devemos admitir a nossa fragilidade? Como lidar com a vergonha por ter errado? Como lidar com a culpa? O que fazer se formos rejeitados?

 

Quando cometemos um erro, ainda que sem querer, o esperado é que peçamos desculpas. A pessoa ofendida se sente no direito de ouvir alguma retratação de nossa parte, alguma manifestação de arrependimento, pois nas relações pessoais existe um entendimento comum que dita que a pessoa que falhou deve se desculpar evitando que a situação venha a se agravar, deteriorando o relacionamento.

 

Quando alguém erra conosco temos facilidade em culpar, punir e tirar disso um sentimento de que a justiça foi feita. Quando somos nós que erramos, ou pior se o flagrante é inevitável, caímos na tentação de maquiar o deslize e para isso, muitos de nós não poupam esforços. Mentir, enganar, disfarçar provas, culpar alguém; esses são alguns dos truques que podem ganhar proporções ainda maiores na medida em que tentamos jogar nossa sujeira para baixo do tapete. Agimos assim porque ninguém quer ser visto como “feio”, falível, errado, incapaz, quase um criminoso. Uma boa alternativa para sair deste ciclo pode ser o não julgar e o não reforçar o impulso de se culpar. Surgindo uma crise no relacionamento o mais apropriado é se colocar na posição de ajudar e de se permitir ser ajudado.

 

Acredito que o passo a passo abaixo possa ajudar você a lidar com a dificuldade de perdoar e pedir desculpas:

 

1. Baixar a guarda

Para quebrar a resistência é importante baixar a guarda para tratar do assunto, reconhecer o ponto de vista do outro e ser sincero. As pessoas percebem quando um pedido de desculpas é vazio ou feito de má vontade. Se o seu objetivo é encerrar uma discussão, abaixe suas defesas.

 

2. Ouvir o outro

Em situações de crise somos tomados por uma necessidade de sermos entendidos e de que nos ouçam. Neste momento podemos sair atropelando tudo falando sem parar tentando explicar nossas motivações num esforço de minimizar o peso. A hora de falar chegará, antes de tudo pare e ouça a outra pessoa.

 

3. Pedir desculpas

Esse é o momento mais difícil, mas é um momento inevitável. Sem este momento o processo não se finaliza. Assumir a responsabilidade e reparar o erro é importante, mas não pedir desculpas gera a impressão de que você não se arrependeu e até se orgulha do que fez.

 

4. Oferecer-se para reparar os danos

Se houve algum prejuízo material ou emocional, disponibilize-se a reparar os danos. O ideal é buscar trazer as coisas de volta ao estado anterior ao ocorrido. Algumas coisas são impossíveis de serem reparadas, como a confiança por exemplo, mas se puder reparar algo; faça.

 

Perceba também que quanto mais tardio chega o pedido de desculpas, maior pode ser o dano no relacionamento. Por fim entenda que “Errar é humano, mas quando a borracha se gasta mais do que o lápis, você está positivamente exagerando.” (J. Jenkis). Desculpar-se por erros que cometemos é demonstração de amadurecimento, mas precisar desculpar-se constantemente demonstra pouca disposição para amadurecer.

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