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Verdade seja dita: Perdoar não é esquecer.

 

Quem de nós nunca viveu o dilema de precisar perdoar alguém para seguir adiante, pois entendeu que só o perdão tem o poder de nos libertar, mas ao mesmo tempo a lembrança do ocorrido ainda está viva e, como nos foi ensinado que perdoar e esquecer são ações que ocorrem quase ao mesmo tempo, nos sentimos culpados por sermos incapazes de perdoar uma vez que não conseguimos esquecer?

Aqueles que já foram traídos, humilhados, perseguidos, injustiçados ou caluniados sabem que existem lembranças que não se apagam, pois estas experiências ficam gravadas como tatuagens na memória para sempre. Existe, porém uma diferença entre o não esquecer e o guardar rancor e é importante saber reconhecer se o não esquecer é o processo normal da memória de fatos marcantes de nossa vida ou se as imagens que emergem da memória estão carregadas de sentimentos destrutivos. Tentar esconder estes sentimentos sob a capa de um perdão inexistente pode torná-los mais fortes e afetar a saúde física e mental.

No post Infidelidade: um problema a dois falei sobre a necessidade do perdão tanto nos relacionamentos que decidem por permanecer juntos como nos que decidem separar-se após a descoberta da infidelidade conjugal. Perdoar faz mais bem a quem perdoa do que a quem é perdoado; perdoar abre novos caminhos e nos faz reconciliar com a vida. Entretanto perdoar não é sofrer de amnésia. O que é tão libertador quanto o perdão; é saber que não precisa que haja esquecimento para ele acontecer. Esquecer não é simples; a lembrança sempre vai existir, o tempo pode embaça-la ou não, afinal como esquecer algo que faz parte de nossa história e que por isto mesmo faz parte de nós? De nossa identidade? Onde quer que estejamos nossa memória nos acompanha, ela faz parte de nós. O importante não é esquecer, mas o que fazer com as lembranças. Elas podem servir de aprendizado ou de instrumentos de tortura; a escolha é nossa.

Com o Coaching aprendi que a dificuldade em perdoar está ligada ao tamanho de nossa vaidade e de nosso orgulho (lembram da postagem anterior?). Quanto mais nos julgamos superiores em relação a quem nos ofendeu, mas difícil se torna o exercício do perdão; ao passo que quando nos igualamos através da nossa humanidade, mais tranquilo é o exercício porque passamos a nos ver no outro e percebemos o quanto somos capazes de cair nos mesmos enganos.

A reconciliação com desafetos pede que perdoemos quem nos ofendeu, mas agora que sabemos que perdão não exige esquecimento, talvez perdoar fique um pouco mais próximo da nossa realidade. Se o esquecimento fosse condição essencial para que o perdão acontecesse, somente os desmemoriados seriam capazes de perdoar.

Perdoar passa por compreender, dar novo significado, por entender que as pessoas são o que são e não os desejos e expectativas que projetamos sobre elas. Precisamos perdoar, mas esquecimento e perdão têm tempos diferentes para acontecer.

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